segunda-feira, 19 de julho de 2010

Minha história prematura - I

Essa declaração é fantástica. Desde que conheci o site ficou claro para mim que eu gostaria de contribuir, mas queria pesquisar mais sobre como foi comigo, o que ainda não fiz. Sensível ao seu apelo, deixo o meu relato, pelo que me lembro das histórias que ouvi, na esperança que ele possa auxiliar as pessoas que
lêem sobre isso ou que estão nessa situação.

A minha história como recém-nascida foi assim...

Eu fui concebida no início do casamento dos meus pais. Eles eram jovens e minha mãe estava terminando a faculdade na época. Ela comenta que a vida era corrida e que passava muito mal durante toda a gravidez, com muitos enjoos e ameaças de aborto, e nem sempre os professores eram tolerantes e compreensivos, assim como os chefes.

Eu nasci prematura, numa cezárea, aos 7 meses. Fiquei um mês no hospital, na incubadora, para a angústia dos meus pais e familiares. Todos se mobilizaram muito, já que eu era pequena e frágil. Certamente não era isso o que a minha mãe esperava para ela como mãe e para mim como filha e ela sofreu muito para lidar com essa situação. Ela teve depressão pós parto, mas pôde contar com a sensibilidade da ginecologista, que indicou uma psicóloga que foi algumas vezes à casa dela, uma vez que ela estava se recuperando do parto. Quando eu saí do hospital, minha mãe dizia que tinha muito medo de cuidar de mim, de não conseguir, por me achar tão frágil. Sempre que me olhava, chorava. Havia uma culpa por não conseguir me amamentar (pois o leite tinha secado) e também uma rejeição, que dificultava as coisas. Não que a minha mãe não me amasse, ela rejeitava aquilo que estava acontecendo, não a mim, mas na depressão as emoções ficam muito
misturadas.

Deus nos dá o maior auxílio, mas tivemos a sorte de contar com uma boa equipe de saúde e a receptividade da família. A ginecologista da minha mãe foi muito cuidadosa e tornou-se depois sua amiga íntima e o Dr. Jácomo, meu pediatra, é até hoje uma pessoa idolatrada por nós, por toda a sua paciência, escuta e apoio durante esse momento e toda a nossa infância e adolescência.

A minha família foi muito importante, pelo apoio à minha mãe e ao meu pai e pelas atitudes efetivas de comprometimento. Uma tia enfermeira ajudava a minha mãe a me dar banho; meu padrinho me levava para ser amamentada pelas amas-de-leite à noite, embaixo de sol ou de chuva, como fosse (isso é até uma certa lenda na família, ele conta orgulhosíssimo até hoje, para quem quiser ouvir, como eu mamava satisfeita!); meu pai foi bastante participativo e ia buscar leite com as amigas da minha mãe, ou amigas das amigas, e deu também sua camisa preferida para fazerem uma roupinha para mim (era uma simpatia); minhas avós ajudaram muito, cuidando de mim; minha avó materna fez um travesseirão de penas de ganso, onde eu dormia tipo sanduíche dentro dele, dobrado ao meio, para que me mantivesse aquecida, na cama dos meus pais, que passavam a noite controlando a minha respiração, com medo de algo ruim me acontecer. Minha madrinha, minhas tias e tios também ajudaram muito, se revezando nos cuidados e nos carinhos. Esses mimos todos (sim, confesso que fui muito mimada - e ainda sou) certamente me ajudaram e ajudaram a minha família a superar esse momento tão delicado que é o nascimento de um bebê prematuro.

A consequência disso? Tenho outros dois irmãos, mais novos, que nasceram no período normal. Eu cresci bem, saudável, sou mãe de uma menininha linda, hoje com 6 anos. Tenho 32 anos e sou psicóloga de crianças e adolescentes. Amo o meu trabalho e a minha família e defendo ativamente a importância de uma gravidez tranquila, da atenção ao bebê recém-nascido (especialmente prematuro) e sua família, da licença maternidade de 6 meses, do investimento especial nos cuidados na primeira infância e da importância das vinculações afetivas e da família e da comunidade como colaboradores no desenvolvimento infantil.

Acredito que essa experiência intensa de ter sido prematura foi fundamental para a minha formação, para o sentido que eu dou à minha vida e para o sentido que a minha existência teve e tem na vida dessas pessoas tão maravilhosas que tenho a sorte de ter ao meu lado.

Christiane Kanzler B. Nunes
http://www.kanzlermelo.com

2 comentários:

  1. Por isso que até hoje é friorenta. Deve ser saudade da incubadora ou do útero.

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  2. Hummmm... isso tá ficando meio pessoal... hahaha.
    Ela é sua experiência com prematuros, não Vlad? :)

    Um abraço.

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