segunda-feira, 27 de junho de 2011

Bebês Prematuros - Mitos e Verdades

Por Psicopedagogia Clínica - BH / MG:

Todo prematuro é igual
Mito. Existem prematuros tardios e extremamente prematuros (que nascem com menos de 32 semanas). Segundo Victor Nudelman, neonatologista do hospital Albert Einstein, é possível cuidar de bebês a partir de 25 semanas, com peso próximo a 500 gramas. “A ansiedade da mãe de um bebê assim é diferente da mãe de um bebê de 34 semanas. Dependendo do grau de imaturidade, os bebês terão tempos e dificuldades completamente diferentes”, diz.
Bebês de 35 semanas são prematuros
Verdade. “Crianças que nascem antes de 37/38 semanas, por definição, são prematuros”, afirma a pediatra Heloisa Ionemoto, do Hospital Infantil Sabará.
A mãe não pode segurar o bebê prematuro
Mito. Segundo os médicos, as mães devem segurá-lo no colo, desde que com cuidado e sempre orientada pela equipe médica, como ressalta Jorge Huberman, neonatologista do Hospital Albert Einstein. A pediatra Heloisa lembra que há programas como o “Projeto Canguru”, no qual o contato físico entre pai/mãe e bebê prematuro ajuda no desenvolvimento. Mas vale lembrar que a incubadora é importante para manter o pequeno sempre aquecido.
O prematuro precisa passar mais de um mês no hospital
Depende. O risco de mortalidade e doenças específicas está inversamente relacionado à idade gestacional. “Quanto menor a idade gestacional, maior a chance de complicações. Os prematuros com mais de 34 semanas, de um modo geral, se saem muito bem, já os menores enfrentam mais dificuldades. Desta forma, estes bebês precisam de cuidados especiais que podem durar poucos dias a alguns meses, com necessidade de internação hospitalar”, esclarece Maria Otília Bianchi, neonatologista da UNICAMP.
Os órgãos do prematuro não estão prontos
Verdade. Principalmente os pulmões, uma vez que ele fazia a troca de ar por meio da placenta. Por isso é muito comum ele apresentar dificuldades respiratórias, o que requer ajuda para assegurar os níveis adequados de oxigênio. Nudelman alerta para a necessidade de aparelhos que forneçam alguma pressão positiva para o ar entrar e medicações que mantenham o pulmão, ainda imaturo, mais aberto.
O prematuro não pode ser amamentado
Mito. Ele deve ser amamentado, porém não consegue sugar, por isso, a alimentação pode ocorrer por meio de sondas. De acordo com Maria Otília, o ideal é alimentar o bebê com leite materno ordenhado, mas pode ser necessário o uso de nutrição endovenosa. “Mesmos os prematuros maiores são sonolentos, sugam vagarosamente e não ganham peso”, explica.
Quanto menos aparelhos ligados no bebê, melhor ele está
Verdade. Isso significa que o corpo já consegue se manter aquecido sem a necessidade da incubadora, os pulmões estão suficientemente desenvolvidos para garantir o ar necessário, ele já consegue sugar e se alimentar sem ajuda de sondas.
Prematuros terão problemas para o resto da vida
Mito, embora prematuros extremos tenham mais chances de apresentar alguma complicação. “Casos graves, como falta de oxigênio ao nascer, por exemplo, podem deixar sequelas e por isso precisarão de acompanhamento prolongado”, aconselha Heloisa.
O prematuro não pode fazer todos os exames
Mito. Huberman afirma que o acompanhamento clínico e laboratorial, além de exames de imagem para verificar o crescimento e desenvolvimento do bebê são primordiais. A prevenção de doenças acontece graças à extensa bateria de exames.
Ele é mais vulnerável a doenças
Verdade. Principalmente as respiratórias.
As vacinas do prematuro são as mesmas do calendário nacional de vacinação
Verdade. “Mas o pediatra pode orientar de forma diferente, caso haja necessidade”, cita Huberman.
É impossível evitar a prematuridade
Mito. “Com um pré-natal precoce e muito bem feito, é possível detectar os indícios da prematuridade”, diz Huberman. As causas mais comuns do parto prematuro são hipertensão arterial, ruptura precoce das membranas amnióticas e infecções.
O desenvolvimento neurológico do bebê prematuro é diferente
Verdade. “Os prematuros ganham um descontinho, visto que consideramos a data provável para 40 semanas para avaliar as novas conquistas. Por exemplo, um bebê que nasce de 31 semanas ao completar quatro meses deve fazer o mesmo que um bebê não prematuro que completou dois meses”, conta Maria Otília. Porém, este “desconto” acaba quando se completa dois anos. A mesma regra é utilizada para peso e estatura, o que significa que ele tem um tempo a mais para buscar o que perdeu por nascer antes.
Os cuidados médicos devem ser diferenciados
Verdade. Heloisa aponta para a necessidade de assistência médica diferenciada e equipe multidisciplinar, principalmente para os nascidos com menos de 30 semanas. “No futuro, o pediatra poderá indicar outros profissionais, como fisioterapeutas e fonoaudiólogos, se necessário”, acrescenta Huberman.
O bebê prematuro precisa viver numa redoma de vidro
Mito. Após os cuidados extremos no hospital – e o ganho de peso e maturidade necessários para ir para a casa – os médicos sugerem que a família leve vida normal, sempre que possível: passeios, aleitamento materno exclusivo, contato com o mundo exterior, inclusive com outras crianças. “Manter as vacinas em dia, alimentação saudável e evitar o contato com pessoas doentes bastam”, diz Maria Otília.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Uma geração de prematuros

Da Gazeta do Povo:



Uma nova geração que começa a frequentar os consultórios pediátricos desafia os médicos. São crianças prematuras – que nasceram antes da 37ª semana – e que podem ter o desenvolvimento afetado por esta condição. Segundo a endócrino-pediatra Margaret Boguszewski, professora do departamento de pediatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esta geração tem hoje cerca de 10 anos de idade: “O problema, que não tínhamos 20 anos atrás, é saber se os prematuros irão apresentar problemas no desenvolvimento até tornarem-se adultos”, diz. Todos os anos, segundo o Ministério da Saúde, nascem no Brasil cerca de 3 milhões de crianças, 10% delas prematuras. Desse total, os problemas de crescimento podem afetar em torno de 30 mil. “Nos próximos anos, a demanda por atendimento dessas crianças será muito grande, até pelo aumento desse tipo de nascimento devido ao alto número de gestações de gêmeos e de fertilizações com quatro ou cinco embriões de cada vez”, explica Margaret.

Durante um ano e meio ela analisou o banco de dados de um laboratório farmacêutico americano com informações sobre uma pesquisa mundial em que 3.215 crianças nascidas prematuras com idade entre seis e sete anos foram medicadas com hormônio do crescimento. Os resultados desta análise internacional, que mereceu recentemente uma matéria no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, órgão de divulgação da Sociedade Americana de Endocri­no­­logia, e a observação do crescimento das crianças prematuras sem intervenção de medicamentos no HC/UFPR, foram abordados por ela em entrevista para a Gazeta do Povo.

Existe diferença no desenvolvimento da criança prematura? O período de crescimento pós-nascimento prematuro não é tão favorável quanto o que ocorre na barriga da mãe: a criança sai de um ambiente uterino equilibrado e é exposta a intervenções externas e fica suscetível a infecções. Quando a situação estabiliza, muitas delas não recuperam a capacidade de se desenvolver plenamente.

Os prematuros não conseguem produzir hormônio do crescimento? Não necessariamente. A dificuldade no crescimento não é exclusividade de quem tem deficiência deste hormônio, mas sim pela condição de prematuridade e pela necessidade de cuidados externos. Crescem menos aquelas crianças que além de prematuras são consideradas pequenas demais para a idade gestacional aferida no parto: um nascido aos seis meses, que deveria pesar um quilo, e que ao invés disso nasce com apenas 800 gramas, por exemplo.

Como foi feita esta análise do banco de dados? Ela foi realizada com crianças prematuras que não recuperaram a capacidade de crescimento durante os anos e que, por isso, tinham de usar o hormônio. Um dos fatores da baixa estatura era o fato de terem nascido prematuras. Nós analisamos o primeiro ano de tratamento dessas crianças e vimos que o seu ritmo de crescimento chegou a dobrar com a aplicação do hormônio.

No experimento internacional, como as crianças recebiam o hormônio?Foi usado um medicamento sintético igual ao hormônio de crescimento produzido pelo organismo. Ele foi injetado diariamente nas crianças analisadas por no mínimo um ano. Esta não é uma intervenção capaz de ser feita de forma massiva em toda uma população.

Alguma dessas crianças já se tornou adulta para que todo o seu crescimento fosse analisado? Não, este estudo é recente. Uma primeira geração de prematuros são adultos jovens na faixa de 20 anos e que provavelmente não tiveram intervenções. Já se sabe que existe o risco de um crescimento inadequado, mas a intervenção foi pensada para esta nova geração, pois o tratamento do prematuro é uma ação desta década.

Por que não se trata o crescimento das crianças prematuras antes dos dois anos de idade? Porque há um período mínimo para que ela mostre se tem condições de recuperar o crescimento de forma espontânea. Entre os dois e três anos de idade, a média de crescimento é de 12 centímetros. Se ela cresce mais do que isso, houve recuperação espontânea. Mesmo que o crescimento seja menor, é preciso aguardar. Na faixa de cinco a seis anos, já foi dado o tempo de recuperação espontânea necessário para ver se o ritmo de crescimento é baixo.

No Hospital de Clínicas da UFPR há pesquisas com aplicações de hormônios? A intervenção é complicada, porque precisa de um órgão financiador. A medicação é cara e o estudo em crianças é mais restrito. Neste momento não existe este tipo de ação no hospital. Fazemos uma pesquisa de análise do crescimento espontâneo e resgate desses dados. O que acontece são casos eventuais de crianças prematuras que precisam de atendimento e, analisados caso a caso, elas são tratadas.

Como as crianças que não recebem hormônio se desenvolvem? É pela alimentação reforçada? Até algum tempo existia a certeza de que a criança prematura tinha que ser superalimentada: havia fórmulas lácteas especiais para prematuros, com carga calórica e proteica maiores. Hoje não é mais assim. É preciso deixar a criança se recuperar sem sobrecarregá-la, afinal seu organismo é imaturo. O importante é garantir que o bebê não desenvolva doenças secundárias que possam atrapalhar seu desenvolvimento como problemas intestinais e respiratórios. É preciso manter a criança bem nutrida, mas dar chance para que ela se recupere sem forçá-la.

Em que fase da vida o hormônio do crescimento é mais importante? Ele é importante a vida toda. O bebê produz o hormônio ainda no útero, mas ele tem um papel mais intenso a partir do segundo ano de vida. No primeiro ano de idade, o que mais influencia o crescimento do bebê é a questão nutricional e de saúde. Depois que paramos de crescer, por volta dos 20 anos, a produção do hormônio diminui, mas não para, pois todos precisam dele para regular o metabolismo, manter a quantidade de massa magra e também de gordura, controlar o colesterol no sangue e manter a densidade óssea.

Um abraço.