quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Minha história prematura - IV

Eu e meu esposo resolvemos ter um filho no inicio de 2006, após um episódio traumático da perda de meu pai. Porém, quando fui fazer a ultrasonografia morfológica descobri que o feto estava sem vida, fui submetida a uma curetagem, foi muito triste, pois queríamos tanto aquele neném.

Passados alguns meses queríamos tentar novamente e como não engravidei logo, o médico me receitou um remédio estimulador de ovulação e no mesmo mês engravidei e para nossa felicidade de gêmeos. Porem logo que foi feita a primeira ultrasonografia o medico nos avisou que um dos bebes não estava crescendo e possivelmente na próxima ultrasonografia não iria acusar mais o mesmo.

Na segunda ultrasonografia como o previsto somente acusou um neném. Mas, como já estávamos preparados para isso estávamos radiantes de felicidade pela criança que viria.
Tudo ia muito bem, ate que na ultrasonografia para ver o sexo do bebe apareceu que não estava ganhando peso. Passou o tempo, o bebe menor que o normal, mas como o resto parecia bem, e o medico nos disse que iria nascer com menos peso que os outros, mas bem, não estávamos tão preocupados.

Porem, no dia 26/07/2007 voltei do trabalho as 18h30horas e como não havia me sentido bem durante o dia todo resolvi tomar um banho e ir deitar. Logo que me deite e me mexi na cama levei um susto, pois estava tendo uma grande hemorragia. Naquele momento fiquei tão desesperada que não sabia quem chamar para me socorrer, pois o meu marido estava trabalhando ate mais tarde naquele dia. A única pessoa que consegui achar o telefone foi meu irmão que veio tão rápido, não sei como, e me levou para o hospital. La chegando ligaram para o meu medico que por azar estava em férias, mas estaria voltando de viajem aquela noite. Consultaram-me e viram que não havia dilatação, ficamos mais tranqüilos, pois o bebe não iria nascer e seus batimentos estavam normais.

No outro dia, 27/07/2007, pela manha meu medico veio e marcou uma ultrasonografia com Doppler, após a mesma ser feita ele veio com resultado e nos disse pela manha, 28/08/2007, iríamos fazer uma cesárea de emergência, pois o bebe não estava ganhando peso pelo contrario estava começando a perder, e se não fizéssemos a cesárea ela morreria e deveríamos dar uma chance de viver, mesmo que fosse quase impossível, pois era muito pequena. Acho que foi a pior noite da minha vida, pois cada hora vinham escutar o coraçãozinho e sempre estava la forte e em poucas horas poderia não estar mais batendo.

Então as 11:00 horas do dia 28/07/2007 veio ao mundo minha pequena Valentina, nome escolhido em razão da situação em que a mesma se encontrava, nasceu com 28 semanas de gestação, pesando 470gramas e 24 centímetros. Fui para a sala de recuperação sem saber se ela estava viva, pois não nos deram esperanças. Só soube que estava viva quando fui para o quarto e meu marido me trouxe uma foto dela.

Assim que pude fui vê-la. Quando cheguei perto da incubadora em que ela estava tive um choque, pois não imaginava que era tão pequena. Mas, no mesmo momento tive certeza que ela iria para casa comigo.

Tive alta e que tristeza ir para casa e não levar o bebe. Então mesmo contra indicação medica no quinto dia depois dela nascer já dirigia, subia e descia as escadas, pois não conseguia ficar em casa longe do meu bebe.

Cada vez que encontrava o pediatra ele me dizia cada dia era um dia não podemos dar previsões, e poderá ter sérias seqüelas. Pois ela era muito pequena e aqui em Erechim – RS nem um bebe com esse peso sobreviveu.

Os dias foram passando e a Valentina sempre forte superando tudo, pneumonias que quase a mataram, uma infecção muito forte e ate uma retinopatia da prematuridade, a qual nos falaram que se não operássemos logo a deixaria cega. O que fazer, pois na cidade ninguém fazia esta operação e o pediatra so liberaria se fossemos de avião com UTI móvel. Pois, conseguimos o tal avião e la fomos nós duas no dia 12/10/2007 para POA fazer a cirurgia. Antes de ir as enfermeiras nos deixaram pegar ela no colo, acho que tinham medo assim como nós que ela não iria agüentar a viagem, foi tão maravilhoso poder beijar ela e sentir o seu cheiro. Já, la em POA vivi uma experiência maravilhosa, pois ate o momento ela estava entubada e chegando la tiraram ela do oxigênio e eu a vi chorar pela primeira vez, quanta emoção. Passados três dias e voltamos, e ela estava muito bem, depois desta cirurgia ela só precisava ganhar peso.

Que susto quando me ligaram do hospital para dizer que deveria fazer a minha mala e a dela, pois passaria alguns dias na UTI para adaptação com ela. Quanta felicidade quando cheguei la e ela estava me esperando numa incubadora dentro do quarto da UTI, mas a partir daquele momento ficaria sobre minha responsabilidade. Foram quase trinta dias de adaptação, acho que virei um pouco enfermeira, abandonei minha casa, minha família e meu trabalho. Nossa quanta felicidade quando no dia 13/12/2007 o pediatra disse que nos daríamos alta. Teve ate festa no hospital, pois ninguém estava imaginado que isso poderia acontecer. Foi o dia mais feliz de nossas vidas.

A minha princesa veio para casa, com sonda para alimentação, pois não tinha forca para sugar. No outro dia que decepção, quando fui alimentá-la a sonda trancou e tivemos que voltar para o hospital para trocar e durante esta troca foi leite para os pulmões, fazendo uma pneumonia por sucção. Que desespero e tristeza quando a pneumo-pediatra nos disse que teríamos que ficar la por 7 dias. Passado os 7 dias fomos para casa com a tal sonda, após 15 dias fui ao seu pediatra para pedir que tirasse a mesma que eu iria ensinar ela tomar mamadeira. Conseguimos. Mais uma vitoria.

Após tudo isso, nos restava somente à incerteza de alguma seqüela. Como não, falar e não caminhar. Fizemos muita fisioterapia motora para incentivá-la, e com 1 ano e 8 meses e começou a caminhar. Nem o pediatra podia acreditar nisso, foi mais uma festa como todas que fizemos com qualquer conquista dela, foi notícia em jornais, rádios e televisão, programas como Jornal do Almoço. 
 
Hoje a minha Valentina, que passou tantas, que quase ninguém acreditava na sua vitoria esta com 3 anos. Tem 9 kg e 86 centímetros. O seu peso ainda nos preocupa. Mas o pediatra nos diz que é normal por tudo o que passou e o que importa e que ela esta bem. Caminhando, falando como um papagaio e por incrível que pareça com um português quase correto, começando ir para a escola e principalmente sem nem uma seqüela contrariando a medicina para prematuros desta linha de peso.  Ela e tão linda. E a razão de nossas vidas.

Não voltei a trabalhar. Os meus dias são para ela. Tenho ate ciúmes quando as pessoas querem pega-la. Sou fascinada por ela. O pai então todo babão. Ela e a coisa mais importante de nossas vidas.

Hoje o que eu posso fazer e agradecer. Agradecer a equipe de enfermagem que foram como mães para ela, ao pediatra que e um segundo pai e sempre esteve conosco nos momentos mais difíceis, ao obstetra que soube fazer a coisa certa na hora certa, a todos os familiares e amigos que rezaram e torceram por nos, ao papai da Valentina que sempre esteve ao meu lado e que mesmo sofrendo muito me apoio em todos os momentos, a Deus que eu pedi tanto para deixar ela comigo e a pequena Valentina que lutou tanto, pois eu pedi que ela lutasse para ficar comigo, pois eu tinha e tenho tanto a oferecer a ela.

E a todos que estão passando por este momento eu posso dizer tenham esperança, acreditem e nunca, mas nunca mesmo deixem que esses pequenos os vejam chorar ou tristes, pois tudo passa para eles. E jamais pensem em desistir, pois o que não me faltou ouvir foi pessoas dizendo coisas como: melhor que ela vá, vai ficar muito sequelada, é impossível, mas em nem um momento isto me abalou, por isso volto a dizer nunca desistam, pois enquanto a vida a esperança.

Como se esquece? Esta pergunta faço quase todos os dias… E já passaram 3 anos…Em cada olhar e sorriso, em cada birra e choro, as recordações regressam sempre.As dúvidas de ontem, as certezas de hoje…Tornaram-me no que hoje sou: Mãe! O peso e a responsabilidade desta pequena palavra. Quando olhas para mim, com o teu doce e malandro olhar, o desafio constante e o amor inexplicável que mutuamente sentimos.A química existente não há formula matemática que a traduza…Olhas para mim como se fosse capaz de consertar tudo o que está mal no mundo, entregas-me tudo o que se parte, como se fosse capaz de arranjar tudo, e não compreendes que nem tudo tem solução, embora eu me esforce para encontrar solução para todos os teus pequeninos problemas.Pergunto-me todos os dias se esta ligação existiria se tudo tivesse sido diferente…Talvez sim, ou não…A tranqüilidade talvez fosse outra, o medo talvez fosse outro… Como se esquece? Ainda não encontrei resposta. O tempo talvez ajude. Esta é a resposta que convenientemente todos me dão. Vou deixar de procurar respostas! Se calar não é para esquecer… Mas sim aprender!A Vida é uma aprendizagem, e maior lição de vida aprendi com a minha filha! Nunca esqueçam foram 470 gramas de amor e determinação, que hoje transformaram-se em vários quilos de amor, teimosia, sorrisos…Para o grande amor da minha vida que já tem 3 aninhos e torna os meus dias mais alegres, agitados, cansativos e felizes.

Michele.
Se precisarem de alguma coisa:

5 comentários:

  1. Essa veio até com foto... :)

    Obrigado Michele por compartilhar.

    Um abraço e parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Michele
    Muitas histórias acontecem para não serem esquecidas.
    Muitas memórias existem para a nobre função de permanecerem lembradas.
    A saga da nossa Valentina foi lida hj na UTI Nicola Albano para mães de bebes prematuros ali internadas.
    Muita emoção mas ao lado disso muita força.
    Que esse carinho todo seja sublimado em dádivas de vida imensa e inteira.
    Que Deus abençoe essa interessantissima trindade.
    Obrigado por dividir conosco tanto carinho.
    Que Deus nos abençoe a todos.
    Luis Tavares.

    ResponderExcluir
  3. Fico infinitamente feliz quando fico sabendo que de alguma maneira a história da minha filha serve de exemplo de luta e determinacão pela vida, assim eu tenho mais certeza que tudo o que ela passou não foi em vão, mas por que atrás disso tudo existia um objetivo maior. Desejo a todas essas mães muita forca e coragem, e que nunca, mas nunca mesmo pensem em desanimar, pois no final sempre existe uma recompensa...beijo a todos......Com Carinho....Michele

    ResponderExcluir
  4. Lindo sua historia...milha filha vai chamar Valentina....
    felicidade

    ResponderExcluir
  5. Deus abençoe sua Valentina. Que ela tenha muita saúde e lindos sorrisos. A história de vcs dá forças e esperanças para nós.

    ResponderExcluir