quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Minha história prematura - III

Meu nome é Monica, tenho hoje 31 anos e sou casada há 10. Como Daniel e eu casamos cedo, planejamos um bebê para quando fizéssemos 30 anos. Assim, estaríamos mais preparados emocional e materialmente.

A gestação corria tranqüila, sem intercorrências. Praticava atividades físicas, mantinha uma alimentação adequada e fazia acompanhamento pré-natal quinzenal.

Numa quinta-feira notei que havia um pouco mais de muco quando fui ao banheiro. Era o tampão que estava saindo e eu não sabia do que se tratava. O muco saiu em abundância até domingo, quando senti uma leve contração e procurei a maternidade. Estava com 7cm de dilatação!. 4 horas depois de dar entrada no hospital, nascia Beatriz, com 1,200kg, 37cm e 27 semanas de gestação. Na sala de parto, o pediatra ainda me deixou dar um beijinho em seu rosto roxinho e eu disse “te amo”.

O parto estava previsto para 20 de agosto de 2009. Dia 18 de maio de 2009, ela nascia. Com 3 meses de antecedência.

Estava confusa e sabia que havia um percentual de chance dela não sobreviver. Um medo enorme tomava conta de mim. Não me permiti sentir dor de pós-parto nem nada. Lembrava que havia um serzinho meu que devia estar sentindo dores mais pungentes e estar com tanto ou mais medo do que eu. Afinal, sair abruptamente do ventre quentinho para um ambiente cheio de luzes e sons, não deve ser nada fácil.

Foram 76 dias de dor. Física para ela, que ainda tem na pele as pequenas cicatrizes das picadas e emocional para nós, que apenas podíamos acompanhar de longe os procedimentos que nossa Bia sofria.

Beatriz foi um bebê grave. Seu pulmão não estava amadurecido plenamente, como acontece com todos os prematuros. Foi dependente de oxigênio por cerca de 50 dias.

Havia também o risco de problemas sérios de visão, problemas também comuns a prematuros extremos, devido ao tempo de dependência de oxigênio.

Foram várias as transfusões de sangue, exames mais ou menos invasivos, inúmeras apnéias (quando o bebê ‘esquece’ de respirar). Cada dia era uma nova batalha. Muitas vezes saíamos felizes da visita da tarde e recebíamos um banho de água fria ao chegarmos à noite.

Optamos por manter a família um tanto que alheia aos acontecimentos. Não achávamos justo com os avós e bisavós receber um turbilhão de notícias muitas vezes ruins. 
Após 76 dias de UTI, chegamos em casa. E uma nova batalha se iniciou. Amamentá-la sem apoio das profissionais, a higiene, o esquema de vacinação.

Uma lista interminável de médicos especialistas a se percorrer. E a cada choro, o pavor de que se seguisse uma apnéia.

Será que a parte motora se desenvolveria perfeitamente? E a cognitiva? Aprender a viver dia após dia. E ter paciência de esperar o tempo dela.

Um dia Beatriz firmou o pescoço. Em outro pegou um brinquedinho com as mãozinhas. Torcíamos a cada rolada que ela consegui dar! Aprendeu a sentar, ficar de pé sozinha... Cada dia tem sido uma nova vitória.

Tivemos a graça de não aparecer, até o momento, nenhuma seqüela. Bia raramente adoece. Teve uma dor de barriga, um resfriado com tosse e roséola! Doencinhas comuns aos bebês.

Dia 1º de agosto comemoramos 12 meses de sua alta.

Hoje, aos 14 meses, Beatriz está de dieta! Precisa manter seus 11 quilinhos! Tem 75cm de altura e desde os 6 meses entrou no gráfico de peso e desde os 9 meses no de altura. Ou seja, antes de completar 1 aninho de nascida, já tinha o tamanho de um bebê nascido de 9 meses.

Sabemos, ainda, que sua imunidade é mais baixa e que a broncodisplasia pulmonar exige cuidados diferenciados. Mas temos uma certeza: Beatriz é a melhor surpresa de nossas vidas!

Monica e Daniel—pais de Beatriz

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