segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Notícias de prematuridade


Gravidez precoce aumenta risco de cegueira infantil
Mdemulher
Para Queiroz Neto, a gravidez nessa faixa estaria esta associada à sobrevida de 80% dos bebês prematuros e esta fazendo a retinopatia da prematuridade crescer no país. A doença, caracterizada pelo desenvolvimento desordenado dos vasos da retina que ...
Veja todos os artigos sobre este tópico »
Escapes de automóvel aumentam risco de parto prematuro
TVI24
Devido à poluição, nascem mais bebés prematuros nas grandes cidades do que nas zonas rurais. Para uma grávida que viva numa cidade grande e poluída as probabilidades de ter um parto pré-termo são muito superiores ¿ mais 30 por cento ¿ às que se ...
Veja todos os artigos sobre este tópico »


DN Online - Saúde - Prematuros correm risco duplo ao nascer e na ...
Ao todo, foram analisados 674.820 nascimentos, sendo 4,1% deles prematuros, definidos como gestações com duração menor a 37 semanas. ...
www.dnonline.com.br/.../prematuros-correm-risco-duplo-ao-n...

O bebê prematuro na TV

Por Luis Tavares.
Nesta terça feira, 18 de outubro, Dia do Médico, o programa Conexão Brasil (apresentado pela TV Século 21 de Campinas, com transmissão pela parabólica e pelo site http://www.tvseculo21.org.br/conexaobrasil apresentará o tema "O bebê prematuro".
O programa é comandado pelo Dr. José Martins Filho, da UNICAMP, emérito defensor da amamentação no Brasil e autor de um dos livros mais estudados nos anos 80 sobre o tema: Como e porque amamentar.
O entrevistado é o pediatra campista Dr. Luis Alberto Mussa Tavares que esta lançando livro novo (Uma Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro - Edição Comentada) e um projeto (Casa de Apoio para a Mãe de UTI).
O programa é dividido em 4 blocos de 12 minutos.
O tema é a abordagem humanizada e respeitosa do bebê prematuro, a importancia do envolvimento da familia em seu cuidado e a visão pessoal desse pediatra acerca das pe rspectivas futuras do atendimento a esse bebê.
Considerando a importancia social do nascimento prematuro para a humanidade, hoje calculado em mais de 13 milhoes de nascimentos anuais, o tema é de importancia fundamental, uma vez que discute o direito à vida e ao tratamento respeitoso de uma imensa parcela de nossa população que nem sempre recebe, por inumeros motivos, acolhimento adequado e contingente de nosso sistema de saude cada vez mais bioquimico e farmacológico e cada vez menos integral.
Convido a todos a dividirem comigo estas considerações tão magistralmente conduzidas pela exeriencia e pelo talento do Dr José Martins Filho.
http://www.tvseculo21.org.br/conexaobrasil
Um abraço.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Bebês Prematuros - Mitos e Verdades

Por Psicopedagogia Clínica - BH / MG:

Todo prematuro é igual
Mito. Existem prematuros tardios e extremamente prematuros (que nascem com menos de 32 semanas). Segundo Victor Nudelman, neonatologista do hospital Albert Einstein, é possível cuidar de bebês a partir de 25 semanas, com peso próximo a 500 gramas. “A ansiedade da mãe de um bebê assim é diferente da mãe de um bebê de 34 semanas. Dependendo do grau de imaturidade, os bebês terão tempos e dificuldades completamente diferentes”, diz.
Bebês de 35 semanas são prematuros
Verdade. “Crianças que nascem antes de 37/38 semanas, por definição, são prematuros”, afirma a pediatra Heloisa Ionemoto, do Hospital Infantil Sabará.
A mãe não pode segurar o bebê prematuro
Mito. Segundo os médicos, as mães devem segurá-lo no colo, desde que com cuidado e sempre orientada pela equipe médica, como ressalta Jorge Huberman, neonatologista do Hospital Albert Einstein. A pediatra Heloisa lembra que há programas como o “Projeto Canguru”, no qual o contato físico entre pai/mãe e bebê prematuro ajuda no desenvolvimento. Mas vale lembrar que a incubadora é importante para manter o pequeno sempre aquecido.
O prematuro precisa passar mais de um mês no hospital
Depende. O risco de mortalidade e doenças específicas está inversamente relacionado à idade gestacional. “Quanto menor a idade gestacional, maior a chance de complicações. Os prematuros com mais de 34 semanas, de um modo geral, se saem muito bem, já os menores enfrentam mais dificuldades. Desta forma, estes bebês precisam de cuidados especiais que podem durar poucos dias a alguns meses, com necessidade de internação hospitalar”, esclarece Maria Otília Bianchi, neonatologista da UNICAMP.
Os órgãos do prematuro não estão prontos
Verdade. Principalmente os pulmões, uma vez que ele fazia a troca de ar por meio da placenta. Por isso é muito comum ele apresentar dificuldades respiratórias, o que requer ajuda para assegurar os níveis adequados de oxigênio. Nudelman alerta para a necessidade de aparelhos que forneçam alguma pressão positiva para o ar entrar e medicações que mantenham o pulmão, ainda imaturo, mais aberto.
O prematuro não pode ser amamentado
Mito. Ele deve ser amamentado, porém não consegue sugar, por isso, a alimentação pode ocorrer por meio de sondas. De acordo com Maria Otília, o ideal é alimentar o bebê com leite materno ordenhado, mas pode ser necessário o uso de nutrição endovenosa. “Mesmos os prematuros maiores são sonolentos, sugam vagarosamente e não ganham peso”, explica.
Quanto menos aparelhos ligados no bebê, melhor ele está
Verdade. Isso significa que o corpo já consegue se manter aquecido sem a necessidade da incubadora, os pulmões estão suficientemente desenvolvidos para garantir o ar necessário, ele já consegue sugar e se alimentar sem ajuda de sondas.
Prematuros terão problemas para o resto da vida
Mito, embora prematuros extremos tenham mais chances de apresentar alguma complicação. “Casos graves, como falta de oxigênio ao nascer, por exemplo, podem deixar sequelas e por isso precisarão de acompanhamento prolongado”, aconselha Heloisa.
O prematuro não pode fazer todos os exames
Mito. Huberman afirma que o acompanhamento clínico e laboratorial, além de exames de imagem para verificar o crescimento e desenvolvimento do bebê são primordiais. A prevenção de doenças acontece graças à extensa bateria de exames.
Ele é mais vulnerável a doenças
Verdade. Principalmente as respiratórias.
As vacinas do prematuro são as mesmas do calendário nacional de vacinação
Verdade. “Mas o pediatra pode orientar de forma diferente, caso haja necessidade”, cita Huberman.
É impossível evitar a prematuridade
Mito. “Com um pré-natal precoce e muito bem feito, é possível detectar os indícios da prematuridade”, diz Huberman. As causas mais comuns do parto prematuro são hipertensão arterial, ruptura precoce das membranas amnióticas e infecções.
O desenvolvimento neurológico do bebê prematuro é diferente
Verdade. “Os prematuros ganham um descontinho, visto que consideramos a data provável para 40 semanas para avaliar as novas conquistas. Por exemplo, um bebê que nasce de 31 semanas ao completar quatro meses deve fazer o mesmo que um bebê não prematuro que completou dois meses”, conta Maria Otília. Porém, este “desconto” acaba quando se completa dois anos. A mesma regra é utilizada para peso e estatura, o que significa que ele tem um tempo a mais para buscar o que perdeu por nascer antes.
Os cuidados médicos devem ser diferenciados
Verdade. Heloisa aponta para a necessidade de assistência médica diferenciada e equipe multidisciplinar, principalmente para os nascidos com menos de 30 semanas. “No futuro, o pediatra poderá indicar outros profissionais, como fisioterapeutas e fonoaudiólogos, se necessário”, acrescenta Huberman.
O bebê prematuro precisa viver numa redoma de vidro
Mito. Após os cuidados extremos no hospital – e o ganho de peso e maturidade necessários para ir para a casa – os médicos sugerem que a família leve vida normal, sempre que possível: passeios, aleitamento materno exclusivo, contato com o mundo exterior, inclusive com outras crianças. “Manter as vacinas em dia, alimentação saudável e evitar o contato com pessoas doentes bastam”, diz Maria Otília.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Uma geração de prematuros

Da Gazeta do Povo:



Uma nova geração que começa a frequentar os consultórios pediátricos desafia os médicos. São crianças prematuras – que nasceram antes da 37ª semana – e que podem ter o desenvolvimento afetado por esta condição. Segundo a endócrino-pediatra Margaret Boguszewski, professora do departamento de pediatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esta geração tem hoje cerca de 10 anos de idade: “O problema, que não tínhamos 20 anos atrás, é saber se os prematuros irão apresentar problemas no desenvolvimento até tornarem-se adultos”, diz. Todos os anos, segundo o Ministério da Saúde, nascem no Brasil cerca de 3 milhões de crianças, 10% delas prematuras. Desse total, os problemas de crescimento podem afetar em torno de 30 mil. “Nos próximos anos, a demanda por atendimento dessas crianças será muito grande, até pelo aumento desse tipo de nascimento devido ao alto número de gestações de gêmeos e de fertilizações com quatro ou cinco embriões de cada vez”, explica Margaret.

Durante um ano e meio ela analisou o banco de dados de um laboratório farmacêutico americano com informações sobre uma pesquisa mundial em que 3.215 crianças nascidas prematuras com idade entre seis e sete anos foram medicadas com hormônio do crescimento. Os resultados desta análise internacional, que mereceu recentemente uma matéria no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, órgão de divulgação da Sociedade Americana de Endocri­no­­logia, e a observação do crescimento das crianças prematuras sem intervenção de medicamentos no HC/UFPR, foram abordados por ela em entrevista para a Gazeta do Povo.

Existe diferença no desenvolvimento da criança prematura? O período de crescimento pós-nascimento prematuro não é tão favorável quanto o que ocorre na barriga da mãe: a criança sai de um ambiente uterino equilibrado e é exposta a intervenções externas e fica suscetível a infecções. Quando a situação estabiliza, muitas delas não recuperam a capacidade de se desenvolver plenamente.

Os prematuros não conseguem produzir hormônio do crescimento? Não necessariamente. A dificuldade no crescimento não é exclusividade de quem tem deficiência deste hormônio, mas sim pela condição de prematuridade e pela necessidade de cuidados externos. Crescem menos aquelas crianças que além de prematuras são consideradas pequenas demais para a idade gestacional aferida no parto: um nascido aos seis meses, que deveria pesar um quilo, e que ao invés disso nasce com apenas 800 gramas, por exemplo.

Como foi feita esta análise do banco de dados? Ela foi realizada com crianças prematuras que não recuperaram a capacidade de crescimento durante os anos e que, por isso, tinham de usar o hormônio. Um dos fatores da baixa estatura era o fato de terem nascido prematuras. Nós analisamos o primeiro ano de tratamento dessas crianças e vimos que o seu ritmo de crescimento chegou a dobrar com a aplicação do hormônio.

No experimento internacional, como as crianças recebiam o hormônio?Foi usado um medicamento sintético igual ao hormônio de crescimento produzido pelo organismo. Ele foi injetado diariamente nas crianças analisadas por no mínimo um ano. Esta não é uma intervenção capaz de ser feita de forma massiva em toda uma população.

Alguma dessas crianças já se tornou adulta para que todo o seu crescimento fosse analisado? Não, este estudo é recente. Uma primeira geração de prematuros são adultos jovens na faixa de 20 anos e que provavelmente não tiveram intervenções. Já se sabe que existe o risco de um crescimento inadequado, mas a intervenção foi pensada para esta nova geração, pois o tratamento do prematuro é uma ação desta década.

Por que não se trata o crescimento das crianças prematuras antes dos dois anos de idade? Porque há um período mínimo para que ela mostre se tem condições de recuperar o crescimento de forma espontânea. Entre os dois e três anos de idade, a média de crescimento é de 12 centímetros. Se ela cresce mais do que isso, houve recuperação espontânea. Mesmo que o crescimento seja menor, é preciso aguardar. Na faixa de cinco a seis anos, já foi dado o tempo de recuperação espontânea necessário para ver se o ritmo de crescimento é baixo.

No Hospital de Clínicas da UFPR há pesquisas com aplicações de hormônios? A intervenção é complicada, porque precisa de um órgão financiador. A medicação é cara e o estudo em crianças é mais restrito. Neste momento não existe este tipo de ação no hospital. Fazemos uma pesquisa de análise do crescimento espontâneo e resgate desses dados. O que acontece são casos eventuais de crianças prematuras que precisam de atendimento e, analisados caso a caso, elas são tratadas.

Como as crianças que não recebem hormônio se desenvolvem? É pela alimentação reforçada? Até algum tempo existia a certeza de que a criança prematura tinha que ser superalimentada: havia fórmulas lácteas especiais para prematuros, com carga calórica e proteica maiores. Hoje não é mais assim. É preciso deixar a criança se recuperar sem sobrecarregá-la, afinal seu organismo é imaturo. O importante é garantir que o bebê não desenvolva doenças secundárias que possam atrapalhar seu desenvolvimento como problemas intestinais e respiratórios. É preciso manter a criança bem nutrida, mas dar chance para que ela se recupere sem forçá-la.

Em que fase da vida o hormônio do crescimento é mais importante? Ele é importante a vida toda. O bebê produz o hormônio ainda no útero, mas ele tem um papel mais intenso a partir do segundo ano de vida. No primeiro ano de idade, o que mais influencia o crescimento do bebê é a questão nutricional e de saúde. Depois que paramos de crescer, por volta dos 20 anos, a produção do hormônio diminui, mas não para, pois todos precisam dele para regular o metabolismo, manter a quantidade de massa magra e também de gordura, controlar o colesterol no sangue e manter a densidade óssea.

Um abraço.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O encontro com as mães da UTI

Do Mídia News:

Quinze anos depois, as médicas reencontram Victor, que nasceu com 700g

A primeira vez que as mãos da pediatra Filomena Bernardes de Mello tocaram os dedinhos de Victor dos Santos Gallo, ele pesava apenas 700 gramas, media menos do que 30 centímetros e acabara de nascer após uma gravidez de seis meses incompletos.

Naquele ano 1996, a criança era prematura demais para que a médica sentisse, com plena certeza, que o bebê tão pequenino sobreviveria. Quase quinze anos depois, as mãos de Filomena e Victor voltaram a se tocar.

O encontro, acompanhado pela reportagem, celebrou os “dribles” que o menino deu em todas as projeções pessimistas da medicina. “O quadro não era nada bom”, diz, com consciência de adulto, o hoje adolescente de 14 anos e 7 meses. Para Filó – como é chamada por todos na maternidade em que ainda trabalha – foi mais uma prova de que ter escolhido a função médica de tentar reproduzir o “útero” para meninos e meninas que nascem antes do tempo é mais do que um trabalho. “É uma missão”, diz ela.

A especialidade médica chamada neonatologia é aquela que cuida principalmente dos bebês prematuros ou que nascem com baixo peso severo – menor do que 1 quilo. Hoje, com a popularização das técnicas de fertilização in vitro e com o aumento da idade das mães, cresceram também as taxas de prematuridade das crianças.

Em 1996, ano em que Victor chegou ao mundo, os “apressadinhos” respondiam por 5,3% do total de partos, mostram os números do Ministério da Saúde. Uma década depois, passaram a representar 9% dos nascimentos em Estados como São Paulo, um crescimento de 27% no período.

Este aumento da demanda também veio acompanhado por mais tecnologia e pesquisas para tratar dos pequenos. Uma criança nascida após cinco meses de gestação hoje já não é mais uma raridade e as chances de sobrevida estão bem mais ampliadas.

Mas mesmo com todas as máquinas incubadoras de última geração – que ajudam a deixar quentinho o bebê, protegido e pronto para desenvolver-se fora da barriga da mãe – o papel do neonatologista é fundamental neste processo. É preciso monitorar cada batimento cardíaco, respiração, expressão facial, sono, choro. A intervenção precoce é o que garante a sobrevivência da criança prematura.

Nos oito meses que precisou ficar internado após o nascimento no dia 14 de setembro de 1996, Victor recebeu estes cuidados 24 horas por dia de uma equipe de neonatologistas majoritariamente feminina, coordenada pela Doutora Filó.

Todo ano, perto do Dia das Mães, o garoto volta ao Hospital e Maternidade Santa Joana de São Paulo para visitar as médicas que, acredita o menino, permitiram à sua mãe Diva Gallo comemorar de forma feliz o segundo domingo de maio.

Vitorioso
Diva tentava engravidar havia dez anos. Inúmeras tentativas frustradas foram colecionadas até que, aos 38 anos, veio a confirmação da gravidez. “Estava tudo certo, fazia o acompanhamento com o pré-natal, não havia orientação médica para deixar de fazer nada. Era a mulher mais feliz do mundo, mas como já tinha tido abortamentos antes, tinha receio de perder o meu bebê”, lembra Diva.

A gravidez era comemorada, mas quase não deu para ser curtida. “Foi tudo muito rápido”, lembra. Um dia Diva sentiu uma dor e certo incômodo, foi para o Hospital Santa Joana só para checar se estava tudo bem e ali foi informada que precisava fazer um parto de emergência. Não compreendia muito bem como iria parir sendo que não estava grávida nem há seis meses. Mas fez força, empurrou e teve parto normal de um menino. “Não sabia que o sexo era masculino e nem tinha escolhido um nome para ele.”

O bebê era tão pequenininho que não chorou. O silêncio era forte na sala de parto. A criança foi levada à UTI neonatal, com complicações pulmonares e cardíacas muito sérias. “Eram só 700 gramas que aquele garotinho pesava”, pensou Filomena enquanto, pela primeira vez, segurava na mão do menino.

Os médicos não deram prognósticos muito favoráveis. A sobrevivência não podia ser garantida. Mas uma enfermeira disse uma frase que marcou Diva e o marido e ajudou a definir a identidade do protagonista desta história.Como lutou para sobreviver este menino”, disse. Pronto. Nome escolhido. Ele era um vitorioso. Vai chamar Victor.

Experiência in loco
Ter alta da maternidade e sair sem o bebê nos braços marcou Diva. Naquele momento tão difícil ela já havia criado laços de afetividade bem fortes com toda a equipe cor-de-rosa do Santa Joana. Com Filó, o carinho também era crescente e a mãe do Victor ficava até mais segura “e menos culpada” de passar algumas horas longe do hospital quando era ela que estava de plantão.

Victor foi o menor prematuro que nasceu naquele ano no Santa Joana. As roupas e os sapatinhos ficavam folgados nele, por menor que fossem. E as médicas, sem esconder da mãe, sabiam que ele seria uma fonte de aprendizado inesgotável. Iria ensinar o que, até aquele momento, elas não sabiam.

O afeto que a equipe toda demonstra até hoje pelo menino também é justificado por ele ter sido uma espécie de “professor”. “O Victor teve todas as viroses possíveis e imagináveis, complicava o quadro sempre, usou toda a munição médica que tínhamos na época. Ele nos ensinou muito”, diz Filomena cheia de emoção.

Um bom remédio
Não foi apenas referência de procedimento clínico que o menino Victor “ensinou” àquela equipe. O conceito de humanização, ainda mais dentro da UTI, não era forte há 15 anos. As mães quase não podiam tocar as crianças, as visitas eram com prazo e hora marcada. Ficar perto do leito junto ao filho era um privilégio que parecia durar apenas alguns segundos para a maioria delas.

“Mas já naquela época começamos a perceber que as mães mais carinhosas, aquelas que conversavam por entre o vidro da incubadora com os seus bebês, as mais participativas dos tratamentos eram também as que conseguiam mais altas hospitalares e melhor sucesso com suas crianças”, conta Filó.

Diva foi uma das que ajudou a médica Filomena a chegar as estas conclusões. Victor, de certa forma, auxiliou o hospital a reconhecer a importância do tratamento mais humano, com mais contato entre mãe e filho, aos moldes da estrutura que existe hoje.

As primeiras palavras
Oito meses de internação hospitalar foram completados e Diva pôde então levar o seu pequeno, agora com 3 quilos, para a casa. “O marco da vida do prematuro é diferente dos bebês que passam por uma gestação completa”, explica Filó.

“Aqui no hospital tentamos reproduzir o que o útero materno faria. Mas esta antecipação do nascimento também traz um tempo diferenciado para as primeiras palavras, os primeiros passos e em alguns casos até de aprendizagem”, explica a neonatologista.

Victor surpreendeu nisso também. “Mamãe” foi a primeira palavra dita aos 2 anos, logo em seguida dele começar a andar sozinho. Aos 6 anos, ele foi para a escola, no ensino tradicional, e apesar de ser bem pequenino e não caber na carteira, sempre acompanhou a classe.

Foram algumas internações por problemas respiratórios e visitas frequentes ao médico, bem mais do que seus colegas de classe. Aos 8 anos, entratanto, Victor já passou a acompanhar a curva de crescimento e de peso dos outros meninos.

Todo este processo foi acompanhado pela médica Filomena, atualizada sempre que o garoto retornava ao Santa Joana ou para celebrar junto com a equipe o Dia das Mães ou o seu aniversário. “A primeira vez que eu ouvi o Victor falar ele, enrolou a língua, e disse que queria ir ao mercado comprar bala. Nunca esqueci as palavras e fiquei bem emocionada”, lembra Filó. Neste último encontro, a frase dita pelo garoto também balançou a médica. Em português bem claro, Victor contou que já deu o primeiro beijo (na boca) em uma menina mais alta do que ele, mas não é “namoro não”.

Esperança
O caso de Victor é emblemático para mostrar como Filó conduz a sua carreira que completa 27 anos em 2011. O garotinho, hoje forte e cheio de saúde, divide espaço não só no coração da equipe neonatal do Santa Joana mas também no livro onde estão as fotos do mais de 3 mil bebês que já passaram pelos cuidados das médicas e dos médicos de lá.

“Não esquece de falar do Dr. Franco, meu pediatra até hoje, porque eu adoro ele demais”, falou Victor à reportagem.

Em todas estas histórias registradas no livro do Santa Joana, Filó algumas vezes teve certeza da alta e da recuperação dos bebês. Em outras duvidou que isto seria possível (no ano passado uma menina nascida com 450 gramas foi para casa). Mas é também por ser mãe que ela sempre soube como lidar com estas perspectivas. "Existe algo que nenhum médico pode tirar do paciente que é a esperança", diz Filó. "Ser mãe de prematuro é vibrar por cada dia que a criança sobrevive na UTI. Ser médica de prematuro é também fazer isso”, contou.

Para quem dúvida, basta passar um dia ao lado de Victor, talvez futuro jogador de futebol de salão, que adora as garotas altas, deixando Diva e todas as “mães” da maternidade com um ciúme danado!



Um abraço.